Ordm; LIVRO - ENTRE A TERRA E O CÉU 3 страница

 

9.Efeitos do suicídio - Quando André e seus amigos se aproximaram do leito, Júlio lançou-lhes um olhar de atormentada desconfiança, mas, contido pela ternura da irmã que o assistia, ficou mudo e impassível. Clarêncio indagou se ele não se mostrara, ainda, em condições de par­tilhar os estudos com os outros, ao que Blandina respondeu: "Não; aliás, os nossos benfeitores Augusto e Cornélio, que nos amparam fre­qüentemente, são de parecer que ele não conseguirá adquirir aqui qual­quer melhora real, antes da reencarnação que o aguarda. Traz a mente desorganizada por longa indisciplina". E, bem humorada, acrescentou: "E' um paciente difícil. Felizmente, dispomos da cooperação de nossa devotada Mariana, que o adotou por filho espiritual, até que retorne ao lar terrestre. Foi preciso segregá-lo neste quarto, tamanha é a gritaria a que se entrega por vezes". Blandina explicou, então, que era dispensado a Júlio, diariamente, o tratamento magnético recomen­dado. Passes e remédios não lhe faltavam. Clarêncio perguntou-lhe se ela conhecia o caso do menino em suas particularidades. "Sim, conheço. Eulália tem vindo até nós", respondeu, lamentando que a mãe não esti­vesse em condições de ampará-lo. Só a irmã -- Evelina -- se lembrava dele em suas preces; ninguém mais da família o ajudava. Nesse ponto, Júlio passou a chamar pela mãe, em voz rouca, enlaçando Blandina. Doía-lhe a garganta. A benfeitora o abraçou, beijando-lhe os cabelos, e procurou confortá-lo. Em seguida, sentando-o numa poltrona, solici­tou a ajuda de Clarêncio. O Ministro pediu-lhe abrisse a boca e, sur­presos, ele e André perceberam que a fenda glótica, principalmente na região das cartilagens aritenóides, apresentava extensa chaga. Clarên­cio aplicou-lhe recursos magnéticos especiais e, em poucos instantes, o menino se tranqüilizou. Incentivado por Blandina, Júlio, hesitante, caminhou para o Ministro, beijou-lhe a destra com respeitoso carinho e balbuciou: "Muito agradecido". Depois, correu para o colo de Blandina, choramin­gando: "Mãezinha, tenho sono..." A jovem conduziu-o ao leito e, já na sala, o Ministro esclareceu que doara ao enfermo energias anestesian­tes; daí a vontade de dormir. Quanto à garganta ferida, Cla­rêncio ex­plicou: "E' pena. Júlio envolveu-se em compromissos graves. Desenten­dendo-se com alguns laços afetivos do caminho, no século pas­sado, con­fiou-se a extrema revolta, aniquilando o veículo físico, que lhe fora emprestado por valiosa bênção". Para morrer, sorvera grande quantidade de corrosivo; salvo a tempo, sobreviveu à intoxicação, mas perdera a voz, em razão das úlceras que se lhe abriram na fenda gló­tica. Incon­formado com o auxílio recebido dos amigos que o salvaram, ele buscou novamente a morte, arrojando-se num rio... Após sofrer muito na vida espiritual, reencarnou junto das almas com as quais se mantinha asso­ciado para a regeneração do passado. Infelizmente, porém -- acrescen­tou o Ministro --, Júlio encontrava dificuldades naturais para recupe­rar-se e teria de lutar muito, antes de incorporar-se a novo patrimô­nio físico. (Cap. IX, págs. 58 a 60)

 

10."Megalomania intelectual" - A irmã Blandina, que parecia bastante versada nas questões da infância, aproveitou o ensejo para dizer que "a criança desencarnada muitas vezes é problema aflitivo". "Quase sem­pre dispõe de afeiçoados que a seguem, de perto, amparando-lhe o des­tino, entretanto -- afirmou ela -- tenho observado milhares de meninos que, pela natureza das provações em que se envolveram, sofrem muitís­simo, à espera de oportunidades favoráveis para a aquisição dos valo­res de que necessitam". O caso de Júlio não era, no seu modo de ver, dos mais dolorosos, pois conhecia casos de irmãos "arrancados à carne, violentamente, como frutos verdes da árvore em que se desenvolvem... Processos de mente enfermiça que só abençoadas estações regenerativas na carne conseguem curar..." Hilário, curioso, pediu-lhe desse alguns exemplos objetivos desses casos, e ela aquiesceu, gentilmente, alu­dindo, inicialmente, aos casos que ela chamou de "megalomania inte­lectual". "Há pessoas na Terra -- contou Blandina -- que não se acau­telam contra os desvarios da inteligência e fazem da astúcia e da vai­dade o clima em que respiram. Insistem na inércia do coração, abominam o sentimento elevado que interpretam por pieguismo e transformam a ca­beça num laboratório de perversão dos valores da vida. Não cuidam se­não dos próprios interesses, não amam senão a si mesmos. Não perce­bem, contudo, que se ressecam interiormente nem imaginam os resulta­dos cruéis da cerebração para o mal". E a jovem irmã continuou: "Freqüentemente, na luta mundana, avultam na condição de dominadores poderosos, com vastíssimo potencial de influência sobre amigos e ad­versários, conhecidos e desconhecidos. Mas esse êxito é ilusório. Caem sob o guante da morte com grande alívio dos contemporâneos e passam a receber-lhes as vibrações de repulsa. Semelhantes criaturas natural­mente são vítimas de si mesmas e sofrem os mais complicados desequilí­brios mentais. Depois de períodos mais ou menos longos de purgação, após a transição da morte, voltam à carne, necessitados de silêncio e solidão para se desvencilharem dos envoltórios inferiores em que se enredaram, assim como a semente precisa do isolamento na cova escura para desintegrar os elementos pesados que a constringem, para novo de­sabrochar". (Cap. X, págs. 61 e 62)

 

11. Reencarnações frustradas - Blandina tocou, na seqüência, num ponto capital no pro­cesso de regeneração através da reencarnação: o papel das mães. Em verdade -- disse ela -- a maioria das mães constitui-se por sublime falange de almas nas mais belas experiências de amor e sa­crifício, ca­rinho e renúncia, dispostas a sofrer e a morrer pelos re­bentos que a Providência Divina lhes confiou, mas, nesse meio, existem mulheres cujo coração se encontra em plena sombra. "Mais fêmeas que mães, jazem obcecadas pela idéia do prazer e da posse e, despreocu­pando-se dos filhinhos, lhes favorecem a morte", asseverou Blandina. "O infanticídio inconsciente e indireto é largamente praticado no mundo. E como o débito reclama resgate, as delongas na solução dos compromissos assumidos acarretam enormes padecimentos nas criaturas que se submetem aos choques biológicos da reencarnação e vêem prejudi­cadas as suas esperanças de quitação com a Lei." Feita ligeira pausa, André indagou: "Pretenderá a irmã dizer que uma criança pode desencar­nar, fora do dia indicado para a sua libertação?" Clarêncio interveio na conversa e afirmou: "Sim, sem dúvida, há um programa estruturado na Espiritualidade para as nossas tarefas humanas, entretanto, pertence-nos a condução dos próprios impulsos dentro delas. Em regra geral, multidões de criaturas cedo se afastam do veículo carnal, atendendo a serviços de socorro e sublimação, mas, em numerosas circunstâncias, a negligência e a irreflexão dos pais são responsáveis pelo fracasso dos filhinhos". Blandina explicou, então, dando seqüência à sua narrativa: "Aqui, recebemos muitas solicitações de assistência, a benefício de pequeninos ameaçados de frustração. Temos irmãs que por nutrirem pen­samentos infelizes envenenam o leite materno, comprometendo a estabi­lidade orgânica dos recém-natos; vemos casais que, através de rixas incessantes, projetam raios magnéticos de natureza mortal sobre os filhinhos tenros, arruinando-lhes a saúde, e encontramos mulheres in­vigilantes que confiam o lar a pessoas ainda animalizadas, que, à cata de satisfações doentias, não se envergonham de ministrar hipnóticos a entezinhos frágeis, que reclamam desvelado carinho... Em algumas oca­siões, conseguimos restabelecer a harmonia, com a recuperação desejá­vel, no entanto, muitas vezes somos constrangidas a assistir ao malo­gro de nossos melhores propósitos". (Cap. X, págs. 62 a 64)

 

12.Crianças desencarnadas - Blandina deixou claro em sua explanação que aquilo que não se realiza num século, pode realizar-se em outro. A Lei se cumpre sempre. As provas e tarefas sofrem dilação no tempo, mas serão cumpridas, afinal. "Quem persiste na direção do bem, mais cedo atinge a vitória. Não vale fugir às responsabilidades, porque o tempo é inflexível e porque o trabalho que nos compete não será transferido a ninguém", informou a educadora. Hilário, muito interessado na con­versação, lembrou a tese do limbo, destinado aos inocentes segundo a teologia clássica, e referiu que, em face das novas concepções do Es­piritualismo, pensava-se que a criança desencarnada retomasse, de ime­diato, a sua personalidade de adulto... "Em muitas ocasiões, é o que acontece -- esclareceu Blandina --; quando o Espírito já alcançou ele­vada classe evolutiva, assumindo o comando mental de si mesmo, adquire o poder de facilmente desprender-se das imposições da forma, superando as dificuldades da desencarnação prematura". E ela disse que muitos renascem na Terra por brevíssimo prazo, simplesmente com o objetivo de acordar corações queridos para a aquisição de valores morais, reco­brando, logo após a desencarnação, a apresentação que lhes é costu­meira. Para a grande maioria das crianças desencarnadas o caminho não é, contudo, o mesmo. Almas ainda encarceradas no automatismo incons­ciente, acham-se relativamente longe do autogoverno e são conduzidas pela Natureza, à maneira das criancinhas no colo materno. Não sabendo desatar os laços que as aprisionam aos rígidos princípios que orientam o mundo das formas, exigem tempo para se renovarem no justo desenvol­vimento. E' por isso que não podemos prescindir dos períodos de recu­peração para quem se afasta do corpo denso, na fase infantil, de vez que, depois do conflito biológico da reencarnação ou da desencarnação, para quantos se acham nos primeiros degraus da conquista de poder men­tal, o tempo deve funcionar como elemento indispensável de restaura­ção. E a variação desse tempo dependerá da aplicação pessoal do apren­diz à aquisição de luz interior, através do próprio aprimoramento mo­ral. (Cap. X, págs. 64 e 65)

 

13. Reparações e reajustamento - Ante as explicações dadas por Blan­dina, André declarou ser possível entender com mais segurança os pro­cessos dolorosos das enfermidades congênitas e das moléstias insidio­sas que assaltam a meninice no mundo, como o mongolismo, a epilepsia, a meningite, a lepra, o câncer... Hilário aludiu, também, aos desas­tres irremediáveis que arrebatam adoráveis flores do lar, deixando in­consoláveis pais e mães... São as reparações que nos martirizam na carne, sem as quais -- asseverou Blandina -- "não atingiríamos o pró­prio reajustamento". Clarêncio esclareceu: "Cada qual de nós renasce na Terra a exprimir na matéria densa o patrimônio de bens ou males que incorporamos aos tecidos sutis da alma. A patogenia, na essência, en­volve estudos que remontam ao corpo espiritual, para que não seja um quadro de conclusões falhas ou de todo irreais. Voltando à Terra, atraímos os acontecimentos agradáveis ou desagradáveis, segundo os tí­tulos de trabalho que já conquistamos ou conforme as nossas necessida­des de redenção". E, bem humorado, acentuou: "A carne, de certo modo, em muitas circunstâncias não é apenas um vaso divino para o cresci­mento de nossas potencialidades, mas também uma espécie de carvão mi­lagroso, absorvendo-nos os tóxicos e resíduos de sombra que trazemos no corpo substancial". Por fim, ante uma pergunta de André, Blandina explicou porque se dedicava àquele trabalho de tanta complexidade. A jovem apagou a luz do sorriso que lhe adornava o semblante, como flor aberta que de repente se fechasse, e contou ter sido casada em sua úl­tima existência, da qual retornara fazia apenas três anos. "Não pude acariciar um filhinho, em meus sonhos recentes de mulher", informou a educadora, "mas hoje sei que preciso reeducar-me no amor de mãe, con­soante os débitos que contraí no passado". "Realmente, sinto grande afeição pelas crianças, contudo, tenho igualmente enormes dívidas mo­rais para com elas..." (Cap. X, págs. 65 e 67)

 

14.A evolução resulta do trabalho incessante - O Lar da Bênção, onde Blandina cuidava pessoalmente de doze crianças, atendia na época mais de duas mil crianças. O educandário era formado por um conjunto de la­res, nos quais muitas almas femininas se reajustavam para a venerável missão da maternidade, atendendo a multidões de meninos que se desti­navam, quase todos, ao retorno à Terra. A direção central do educandá­rio não residia ali. "O parque é uma das várias dependências de vasto es­tabelecimento de assistência e educação, do qual somos hoje tutela­dos", informou Blandina. Na verdade, trata-se de uma larga escola, do­tada com todos os recursos indispensáveis ao aproveitamento dos que ali estagiam. Até cursos primários de alfabetização o educandário man­tém. A explicação é simples: é preciso movimentar todas as medidas de despertamento espiritual ao alcance dos Espíritos que ali trabalham. "A cultura intelectual pode não ser condição básica de nossa felici­dade", observou Blandina, "no entanto, é imperativo de engrandecimento de nossa alma. Quem não sabe ler, não sabe ver como deve". E ajuntou: "A evolução, a competência, o aprimoramento e a sublimação resultam do trabalho incessante. Quanto mais se nos avulta o conhecimento, mais nos sentimos distanciados do repouso. A inércia opera a coagulação de nossas forças mentais, nos planos mais baixos da vida. O serviço é a nossa bênção". Mariana, a avó de Blandina, respondendo a uma pergunta de Hilário, informou que cooperava, ali, com os serviços de sua neta, mas sua principal tarefa se verificava num templo católico, a que se vinculou profundamente, quando de sua última encarnação. (Cap. XI, págs. 68 e 69)

 

15.O valor da missa católica - A alusão feita por Mariana ao catoli­cismo suscitou uma observação de Clarêncio: "o auxílio divino é como o Sol, irradiando-se para todos". "As instituições e as almas que se voltam para o Pai Celestial recebem o suprimento de recursos de que necessitam, segundo as possibilidades de recepção que demonstrem." Hi­lário estava, porém, curioso por saber como se processa o auxílio es­piritual nas igrejas, uma vez que a comunicação direta é ali vedada. "Muito simplesmente -- esclareceu Mariana --; o culto da oração é o meio mais seguro para a nossa influência. A mente que se coloca em prece estabelece um fio de intercâmbio natural conosco...". O pensa­mento era a chave dessa assistência. "A intuição beneficia em toda parte, e, quanto mais alto é o teor de qualidades nobres na criatura, mais ampla é a zona lúcida de que se serve para registrar o socorro espiritual", acrescentou Mariana, informando que, efetivamente, o culto público, qual vinha sendo realizado nas igrejas, não favorecia o contacto das forças superiores com a mente popular. Os interesses ras­teiros, a preocupação de riqueza e pompa, o apego a exterioridades, tudo isso constitui obstáculos, mas é sempre possível fazer algo em benefício do próximo. Aludindo diretamente às missas, Mariana esclare­ceu: "Quando a missa obedece a pura convenção social, funcionando como exibição de vaidade ou poder, a nossa colaboração resulta invariavel­mente nula". E' o caso, por exemplo, segundo ela mesma referiu, dos atos bajulatórios a políticos astuciosos e aos magnatas do ouro que, em verdade, constituem reais sacrilégios em nome do Senhor. "Mas, se o ato religioso é simples, partilhado por mentes e corações sinceros, inclinados à caridade evangélica e centralizados na luz da oração, com os melhores sentimentos que possuem, o culto se reveste de grande va­lor, pelas vibrações de paz e carinho que arremessa na direção daquele a quem é endereçado." Dito isso, Mariana revelou que, freqüentemente, as missas humildes, realizadas aos primeiros cânticos da manhã, são as mais favoráveis ao concurso espiritual. (Cap. XI, págs. 70 a 72)

 

16.Poucos praticam a religião - Hilário aproveitou o ensejo e formu­lou uma pergunta interessante, ligada à questão dos nomes dos patronos ligados às várias igrejas. Por exemplo, um templo foi erguido à memó­ria de Gerardo Majela. "Isso expressa uma obrigação para o grande mís­tico europeu?" Mariana respondeu dizendo que certamente tal fato não constitui uma obrigação escravizante, mas um serviço que honra o nome do patrono e que merecerá deste certo reconhecimento, mesclado de res­ponsabilidade. Todo trabalho do bem, qualquer que seja, permanece li­gado a Jesus. No entanto, se algum servo do Senhor está ligado a al­guma obra, evidente que tanto quanto lhe seja possível desdobrar-se-á para enriquecê-la de bênçãos... E se o santuário for dedicado a um su­posto herói da virtude, sem mérito bastante, à frente do Senhor? Ma­riana esclareceu: "Numa contingência dessas, mensageiros de Jesus res­ponsabilizar-se-iam pela instituição, distribuindo aí os benefícios adequados aos merecimentos e necessidades de cada um". Com relação à assistência às igrejas, Mariana explicou que o trabalho espiritual é complexo e se divide em múltiplos setores, não estando restrito à es­fera da experiência física. "Inumeráveis são as almas que, desligadas do corpo, recorrem aos altares, implorando esclarecimento... Outras, depois da morte, confiam-se a desequilibradas emoções, invocando a proteção dos Espíritos santificados... E' preciso corrigir aqui e aju­dar além...", informou. "A maioria das pessoas aceita a religião, mas não se preocupa em praticá-la. Daí nasce o terrível aumento das aflições e dos enigmas." Hilário quis saber, por fim, se Mariana achava a organização católica suficiente para conduzir o mundo mo­derno. A avó de Blandina sorriu com tristeza e ponderou: "Meu amigo, entre cooperar e aprovar, há sensível diferença. A sociedade ajuda a criança sem infantilizar-se. As igrejas nascidas do Cristianismo ca­minham para grande renovação. O progresso assim exige. As idéias de céu e inferno e os excessos de natureza política, na hierarquia ecle­siástica, estabeleceram grandes perturbações para a alma popular. En­tretanto, cabe-nos considerar as religiões que envelhecem como frutos fortemente amadurecidos. A polpa alterada pelo tempo deve ser colocada à margem, contudo, as sementes são indispensáveis à produção do fu­turo. Auxiliemos as igrejas antigas, em vez de acusá-las". "Todos so­mos filhos do Pai Celestial e onde houver o mínimo gérmen de Cristia­nismo aí surgirão recursos de recuperação do homem e da coletividade para o Cristo, Nosso Senhor." (Cap. XI, págs. 72 a 74)

3a R E U N I Ã O

 

(Fonte: Capítulos XII a XVII.)

 

1.De novo na Crosta terrestre - Finda a excursão ao Lar da Bênção, o grupo tornou à Crosta. Da faixa de luz solar, voltou-se, pois, à imer­são na sombra da noite, mas as primeiras cores da alvorada tingiam o distanciado horizonte. Em casa de Antonina, Clarêncio fê-la deitar-se e aplicou-lhe recursos magnéticos sobre os centros corticais. Ela de­monstrou experimentar leve e doce vertigem. Parecia que Antonina tinha sido sugada pelo corpo denso, à maneira de formosa mulher, de forma sutil e semilúcida, repentinamente engolida por bainha de sombra. Em se justapondo ao cérebro físico, perdera a acuidade mental que apre­sentara antes, mas, tendo a fisionomia calma e feliz, despertou no veículo pesado... Suas lembranças do passeio eram fugazes; só a imagem do filhinho, tema central do seu amor, lhe persistia clara e movimen­tada na memória... Tudo o mais lhe parecia acessórios fantásticos... Antonina movimentou-se, fez luz e André ouviu-a pensar, vibrante: "Oh! meu Deus, que alegria! pude vê-lo perfeitamente! quero guardar a re­cordação deste sonho divino!... Marcos, Marcos, que saudades, meu filho!..." O Ministro abeirou-se dela, acariciou-lhe a cabeça e a se­nhora restabeleceu a sombra no recinto e dormiu. Clarêncio explicou que ela não poderia guardar positivas recordações do que acontecera e, ante a surpresa de Hilário, ajuntou: "Raros Espíritos estão habilita­dos a viver na Terra, com as visões da vida eterna. A penumbra inte­rior é o clima que lhes é necessário. A exata lembrança para ela re­dundaria em saudade mortal". (Cap. XII, págs. 75 a 77)

 

2.O perispírito - Clarêncio, aludindo ao caso Antonina, explicou que cada estágio na vida se caracteriza por finalidades especiais. O mel, por exemplo, é saboroso néctar para a criança, mas se ministrado com exagero torna-se importuno laxativo. "O contacto com o reino espi­ritual" -- esclareceu o mentor --, "enquanto nos demoramos no envoltó­rio terrestre, não pode ser dilatado em toda a extensão, para que nossa alma não afrouxe o interesse de lutar dignamente, até o fim do corpo. Antonina lembrar-se-á de nossa excursão, mas de modo vago, como quem traz no campo vivo da alma um belo quadro de esbatidos contor­nos". Do filho desencarnado ela guardaria lembrança mais viva, para sentir-se confortada e convicta de que ele a esperava na vida maior. "Semelhante certeza ser-lhe-á doce alimento ao coração", acrescentou o Ministro, que, em seguida, convidou os amigos a socorrer o ancião que os aguardava. Leonardo Pires dormia numa velha cadeira. Na fase em que se encontrava, o mentor informou que ele se subordinava a todos os fe­nômenos da existência vulgar. O repouso lhe era, pois, necessário para refazer-se. André examinou o velhinho detidamente. Seu corpo espiri­tual era semelhante ao dos outros Espíritos, mas mostrava-se tão pe­sado e tão denso como se ainda envergasse uma túnica de carne, e seu aspecto era desagradável. Clarêncio elucidou: "O psicossoma ou o pe­rispírito da definição espírita não é idêntico de maneira absoluta em todos nós, assim como, na realidade, não existem dois corpos físicos totalmente iguais. Cada criatura vive num carro celular diferente, apesar das peças semelhantes, impostas pela lei das formas. No círculo de matéria densa, sofre a alma encarnada os efeitos da herança reco­lhida dos pais, entretanto, na essência, a lei da herança funciona in­variavelmente do indivíduo para ele mesmo. Detemos tão somente o que seja exclusivamente nosso ou aquilo que buscamos". (Cap. XII, págs. 77 e 78)

 

3. Somos herdeiros de nós mesmos - Clarêncio prosseguiu explicando: "Renascemos na Terra, junto daqueles que se afinam com o nosso modo de ser. O dipsômano não ad­quire o hábito desregrado dos pais, mas sim, quase sempre, ele mesmo já se confiava ao vício do álcool, antes de renascer. E há beberrões desencarnados que se aderem àqueles que se fazem instrumentos deles próprios". Depois, imprimindo grave entono à voz, ponderou: "A hereditariedade é dirigida por princípios de natu­reza espiritual. Se os filhos encontram os pais de que precisam, os pais recebem da vida os filhos que procuram". Ao ou­vir isso, André lembrou-se de alguns gênios da Humanidade que tiveram filhos monstruo­sos ou medíocres, ao que Clarêncio ajuntou: "No campo das grandes vir­tudes, os pais usam, por vezes, a compaixão reedificante, empenhando-se em tarefas de sacrifício. Temos no mundo mulheres e homens admirá­veis que, consolidando qualidades superiores na própria alma, se dispõem a buscar afetos que permanecem a distância, no passado, em tentativas heróicas de auxílio e reajustamento". Em seguida, o Minis­tro comentou com Hilário o caso Leonardo Pires, mostrando que o corpo espiritual vive conforme a vida de nossa mente. Como Leonardo entre­gara-se, demasiado, às criações interiores do tédio, ódio, desen­canto e aflição, con­densou semelhantes forças em si mesmo, coagulando-as no corpo espiritual. Eis a causa do seu aspecto escuro e pastoso. "Nossas obras ficam conosco. Somos herdeiros de nós mesmos", asseverou o Mi­nistro. Outra situação se apresentaria se Le­onardo trabalhasse, pas­sando a conjugar o verbo servir, porque o trabalho renova qualquer po­sição mental. Mas, quando não nos devotamos ao trabalho, na Crosta, mais difícil se faz a superação dos obstáculos mentais, porque a indo­lência trazida do mundo é tóxico cristalizante das idéias. "Se preten­demos possuir um psicossoma sutilizado, capaz de reter a luz dos nos­sos melhores ideais, é imprescindível descondensá-lo, pela sublimação incessante de nossa mente, que preci­sará, então, centralizar-se no es­forço infatigável do bem", aditou Clarêncio. E' por isso que Deus nos concedeu a dor, a luta, a provação e o sofrimento, únicos elementos reparadores capazes de produzir em nós o reajuste necessário, quando nos pomos em desacordo com a Lei. (Cap. XII, págs. 78 a 80)